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SÃO SEPÉ TEM ALTA APTIDÃO PARA CULTIVO DE UVAS FINAS, APONTA PESQUISA DA UFRGS.

O cultivo de uvas finas no Rio Grande do Sul acontece majoritariamente na Serra Gaúcha desde o século XIX, quando houve a imigração italiana. Hoje em dia, explora-se a possibilidade de expansão das áreas de produção de vinhos para a região central do estado e, como é necessário manter a qualidade da uva, torna-se indispensável conhecer bem as condições locais.

Foto: Ilustrativa 

Assim, uma pesquisa do Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo da UFRGS criou um modelo capaz de avaliar a aptidão de solos para o plantio da Vitis vinifera, uva comum na produção de vinhos Merlot, Cabernet Sauvignon, Tannat, Chardonnay e Riesling.

Para realizar o planejamento agrícola, o pesquisador Antonny Sampaio utilizou como base o município de São Sepé, na região central do estado, e criou um mapa que indica áreas próprias à vitivinicultura. Ele explica que, para essa finalidade, é recomendável que sejam usados mapas com alto nível de detalhamento ou que eles passem por um processo chamado de desagregação de unidades de mapeamento. Em casos em que uma determinada área está indicada como um mesmo tipo de solo ou com as mesmas características, essa técnica consegue diferenciar essas unidades e transformá-las em informações mais precisas.

Na pesquisa, as áreas de São Sepé foram divididas em quatro categorias: Preferenciais (21,1%), Recomendáveis (29,2%), Pouco Recomendáveis (49%) e Não Recomendadas (0,68%).

No município de São Sepé, 64.405 hectares são recomendáveis para o cultivo da Vitis vinifera; dessa área, 46.556 hectares são classificados como preferencial. Apenas 1.496 hectares não são recomendados.

A primeira etapa da pesquisa foi a digitalização e a desagregação do mapa impresso em 1972. “Nós tínhamos um mapa de solo que estava numa escala de 1:100.000, em um nível de detalhamento que não nos permitiria tomar decisões no âmbito de propriedade”, afirma o pesquisador. Isso porque, em uma escala 1:100.000, cada centímetro do mapa corresponde a 100.000 centímetros do território real.

Para que um minifundiário pudesse enxergar as diferenças do solo dentro da sua propriedade, o mapa teria que estar em uma escala ainda maior, em torno de 1:25.000. Por isso, a escala utilizada por Antonny é indicada em um primeiro momento para o planejamento municipal.

O pesquisador calculou a influência de 12 variáveis no desenvolvimento das videiras e na qualidade dos produtos. Para isso, ele consultou a bibliografia e os especialistas no manejo de vinhedos no estado.

Foram considerados os atributos relacionados a relevo, clima e solo. Cada variável (por exemplo, declividade ou índice de aridez) foi avaliada de zero a um, sendo o maior número equivalente ao aspecto de maior influência no cultivo da uva.

“Uma das vantagens do mapeamento digital é que você elabora esse modelo e ele pode ser transferido para o município vizinho. Eu entro com os dados do município vizinho, mas eu não preciso desenvolver a plataforma toda de novo”, explica Antonny.

Em São Sepé, os aspectos mais importantes para a vitivinicultura são o Índice Heliotermático de Huglin (0,557), a altitude (0,525) e a drenagem (0,342). Nas outras cidades, porém, esses números precisam ser recalculados.

Selecionando áreas para as novas vinícolas

Criar um mapa a partir de 12 variáveis pode ser uma tarefa desafiadora, mas escolher a metodologia adequada diminui algumas preocupações. O pesquisador optou pelo Processo Analítico Hierárquico (AHP, em inglês), um processo matemático de tomada de decisão.

Elaborado por Thomas Saaty, o AHP consegue classificar até 15 termos a partir de etapas mais simples, que são comparações par a par. Primeiro, o método foi utilizado nos subcritérios de solo (6), clima (3) e relevo (3). Em seguida, apenas as três categorias foram hierarquizadas.

Cada comparação entre pares gerava um número de 1 a 9, sendo 1 o valor que significa mesma importância e 9 o grau máximo de dominância de um termo em relação ao outro. Em seguida, cada valor foi colocado em uma matriz de comparação.

Nas duas etapas da AHP, o pesquisador obteve os pesos relativos de cada item. Em seguida eles foram aplicados a uma matriz de decisão, o estágio final em um Processo Analítico Hierárquico. Foi nesse momento que Antonny concluiu que, conforme as matrizes, o Índice Heliotermático de Huglin, a altitude e a drenagem são os critérios mais relevantes na cidade.

Após a realização do teste de inconsistências, só resta uma etapa para selecionar os melhores espaços para os vinhedos: a transferência dos resultados das matrizes para um mapa.

De números para pixels

O pesquisador utilizou uma calculadora Raster para transformar os critérios e subcritérios em informação geográfica. Assim, os resultados do Processo Analítico Hierárquico (AHP) foram gravados em cima do mapa original digitalizado, dando origem a três mapas de São Sepé com base em cada variável.

Em seguida, o algoritmo da calculadora sobrepôs essas três figuras, criando um único mapa de adequação. A partir do produto, então, é possível estabelecer a porcentagem da área que é Preferencial, Recomendada, Pouco Recomendada ou Não Recomendada.

As dificuldades no mapeamento

Em outros cultivos, como a olivocultura e a fruticultura, a avaliação de terras pode ser feita por zoneamentos agrícolas tradicionais. Com menor grau de detalhamento, eles podem ser elaborados a partir de mapas que cobrem uma maior área.

A vitivinicultura, porém, requer um nível de detalhamento que é incomum em mapeamentos no Brasil. Para Elvio Giasson, professor do Departamento de Solos da UFRGS, a escassez se deve a um mito de que o processo é demasiado caro.

“No Brasil, só foram feitos mapas na escala 1:200.000 ou 1:750.000 por estado pelo Serviço Nacional de Conservação do Solo na década de 60 e 70. Fora isso, nunca mais, muito menos no Rio Grande do Sul, houve um programa de mapeamento sistemático de solos”, afirma o professor.

Quanto maior a escala (isto é, quanto mais detalhado), mais caro é o serviço. Um mapeamento como o de São Sepé, na escala 1:100.000, é fruto de iniciativas pontuais, promovidas pela própria universidade, por empresas privadas ou pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O professor explica que é possível aplicar a solução desenvolvida por Antonny a outros municípios, mas são poucos os que têm informações geográficas precisas necessárias para isso. O desafio, depois de elaborado o modelo, é conseguir executar o mapeamento sistemático de outros lugares: “Não há conhecimento da necessidade de dispor desses mapas”.

A pesquisa será disponibilizada no repositório digital Lume da UFRGS.



*Tese: Seleção de áreas para a expansão da vitivinicultura na região central do Rio Grande do Sul

Autor: Antonny Francisco Sampaio de Sena
Orientador: Elvio Giasson
Programa/Unidade: PPG Ciência do Solo – Faculdade de Agronomia/UFRGS

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